Ao contrário do que nos prega a internet, existem mais opiniões para além das vossas. É incrível, eu sei, mas a verdade é que não é necessário estarmos todos no mesmo barco para existir um entendimento geral. O mundo não acaba se me disserem que Resident Evil 2 é um mau jogo. As opiniões são assim.

Para colocar este sentimento à prova, decidi abrir as portas à crítica e revelar cinco opiniões que podem considerar como controversas. É um exercício terapêutico, como podem imaginar, mas não para mim – este é para vocês. Se conseguirem chegar ao final do texto sem me rogar pragas, então seremos pessoas melhores.
Hollow Knight não é assim tão bom
Eu tentei, mas não consigo. Adoro o design de alguns níveis, a direção de arte e até a jogabilidade, mas sou incapaz de jogar Hollow Knight por mais de 20 minutos. O jogo cansa-me. Sim, é difícil, muitas vezes até implacável, obrigando-nos a repetir trechos enormes do mapa até encontrarmos um novo ponto de gravação, mas não há um equilíbrio entre esta aposta na dificuldade e numa estrutura metroidvania. Hollow Knight não é divertido, não retiro prazer na navegação dos níveis.

Para mim, um bom metroidvania tem de equilibrar dois elementos: backtracking e movimento. Em Hollow Knight, não sinto nada. Eu sei que é um bom jogo, mas admito agora que não é para mim. Não tenciono terminá-lo, estou saturado. Durante muito tempo, mentalizei-me que tinha de gostar de Hollow Knight, mas agora acabou-se. Não consigo.
Red Dead Redemption 2 é uma seca
Baixem as armas, vocês sabem que eu tenho razão. Não estou a falar da estória ou das personagens, que adoro, mas sim da jogabilidade. Red Dead Redemption 2 é uma das maiores secas que joguei nos últimos anos e acredito sinceramente que funciona melhor como um filme do que como um jogo. De certeza que têm estórias fantásticas sobre o mundo aberto, uma caça ou momento inesperado, mas acredito piamente que se recordam muito mais das personagens e da narrativa.
A jogabilidade é pesada, lenta, demasiado preocupada em ser realista que a Rockstar se esqueceu do elemento a mais importante num título deste género – a diversão. Isto é a minha experiência, a minha opinião e reação ao jogo, mas existem elementos que acredito em que estamos todos de acordo, como a lentidão da personagem, da mira e de ações simples como retirar uma arma ou esfolar um animal. O realismo é uma espada de dois gumes.

Tal como Hollow Knight, Red Dead Redemption 2 parece ser um jogo que nunca vou terminar. É horrível escrever esta frase, mas tenho de a libertar do peito. Quero mesmo muito ver a estória e conhecer melhor as personagens, mas o faroeste quer-me o mais longe possível. Restam-me duas soluções: ver a estória no YouTube ou rever Once Upon a Time in the West, de Sergio Leone. Adivinhem qual vai ser a minha escolha.
Shin Megami Tensei é melhor que Persona
Persona não exstiria sem Shin Megami Tensei, mas há muito tempo que tem uma identidade e popularidade que suplantam a série original. Neste momento, Persona 5 é muito mais importante do que qualquer título principal de Shin Megami Tensei e restantes spin-offs. Eu digo basta!
É verdade que Persona tem uma maior profundidade a nível de conteúdos, apresentando um mundo mais explorável com um sistema social que é delicioso. No entanto, a série nunca se equipará a Shin Megami Tensei no que toca à sua estória e temas. Basta olharmos para SMT III: Lucifer’s Call (ou Nocturne) e SMT IV para compreendermos as diferenças de tom. A luta pelo destino e contra um Deus impiedoso, as escolhas duras e nunca acertadas onde é impossível termos um desfecho totalmente satisfatório, e a forma como os dois jogos lidam com a perda e o sacrifício são apenas alguns dos motivos que me levam a adorar a série principal.

Mas não só: o sistema de combate é outra diferença. Não me interessa que Persona 5 seja mais acessível e rápido. O nível de tática e dificuldade está perfeito em SMT, utilizando as temáticas da série para elevar as mecânicas. Sim, estamos indefesos, e sim, a vida é injusta. Isto é uma questão de preferência, e de certeza que não estou sozinho, mas tenho pena de ver SMT V a ser relegado para segundo plano para dar lugar a spin-offs de um spin-off. A vida é mesmo estranha.
Nier Automata não é especial
Não existem motivos de força maior, filosóficos ou de design que me fazem dizer que Nier Automata é uma deceção. Não consigo dizer-vos que é um mau jogo com uma estória péssima e uma jogabilidade insatisfatória. É impossível. O que vos consigo dizer é que não entrei, de todo, na sua narrativa e não me apaixonei pelo mundo e as suas personagens. Não senti nada. Eu sei, sou uma pessoa cruel.
Aliás, seria uma pessoa cruel se não existisse um jogo que me proporcionou a mesma experiência que tiveram com Automata – e esse jogo chama-se Nier. Ao contrário de 2B e companhia, senti uma ligação enorme ao protagonista, a Kainé e a Emile ao longo da demanda. Terminei os vários finais, chorei com quase todos e vi estas personagens crescerem ao longo das maiores adversidades. Esta foi a minha viagem emocional. Em Automata, parecia estar a ver o mesmo cenário, mas mais confuso e sem a mesma alma.

Mais uma vez, culpo-me por isso. A minha experiência não foi a melhor. Encontrei um momento que me deixou irritado ao ponto de largar o jogo durante meses. Nier, no entanto, nunca me abandonou. A ideia de vermos o lado dos inimigos e os seus problemas, o twist final e até a sequência onde temos de apagar a nossa gravação e Nier das nossas memórias: o original fez tudo melhor. Menos a jogabilidade, bolas.
Final Fantasy XIII não é assim tão mau (e é melhor que XV)
E não é. Existem dois grandes problemas, a linearidade e a narrativa mal estrutura, mas enquanto jogo, não senti aversão a Final Fantasy XIII. Sinto que é um jogo que as pessoas querem odiar, um pouco à semelhança de Final Fantasy X, onde no final do dia é tudo uma questão de opinião e gosto pessoal
Sabem que mais? Eu adorei o sistema de combate. É simples, mas muito rápido e eliminou algum do aborrecimento inerente aos combates por turnos. Adoro a fluidez, a troca de classes e a forma como podemos relegar a escolha de habilidades para ficarmos atentos à barra de stagger e energia dos inimigos e personagens. A banda sonora também é fantástica, não digam que não, e o mundo é um deleite visual que infelizmente não conseguimos explorar livremente.

A linearidade faz parte do conceito da estória e faz sentido dentro do tom do jogo – quer queiramos ou não. Foi desenhado para ser assim e penso que funciona. A narrativa também tem pontos interessantes, ainda que mal explicados ou implementados, mas há uma mensagem forte por detrás dos acontecimentos em Coccoon e Pulse. E para mim, à medida que penso nos dois jogos, mais depressa jogava Final Fantasy XIII do que Final Fantasy XV.