Depois de um lançamento caloroso no PC e Google Stadia, Darksiders Genesis estreia-se agora na PS4, Xbox One e Nintendo Switch para oferecer aos fãs da série uma experiência diferente dos títulos anteriores. A prequela, que nos leva numa viagem até aos acontecimentos que precedem o fim da Humanidade, não é apenas uma nova perspetiva sobre os acontecimentos apocalípticos de Darksiders, mas sim um recomeço e um desvio estratégico para a saga.

Darksiders Genesis despe-se da sua vertente de ação e aventura, das inspirações em The Legend of Zelda e God of War, e das masmorras repletas de puzzles para nos dar um jogo de ação isométrico com um grande foco no combate e nas mecânicas RPG. É, à primeira vista, uma mudança acentuada e disruptiva que transforma a tradicional experiência da série numa campanha cooperativa – protagonizada por War e Strife – mais próxima de Diablo e Victor Vran do que qualquer outro título do género.
A campanha perde a aposta num mundo conectado, dividido por zonas, e assume uma estrutura mais linear, com vários níveis e arenas que podem ser repetidos a qualquer momento – e em diferentes dificuldades. É uma experiência mais fragmentada, mas que aproxima Darksiders Genesis ao género dungeon crawler, oferecendo níveis extensos repletos de segredos e objetivos secundários. É um jogo mais simples onde a conquista de pontos de experiência e de medalhas, que melhoram os atributos dos Cavaleiros, é tão importante como o próprio combate, sendo necessário repetir níveis e objetivos para desbloquear novas habilidades para War e Strife – cada um com a sua própria lista de ataques – num RPG simples e arcaico, mas igualmente funcional e intuitivo. Neste loop de repetição e recompensa, Genesis mostra as suas influências de peito aberto e deleita-se numa campanha onde somos motivados a descobrir todos os seus segredos, onde se incluem bosses secundários e outras surpesas.

Com níveis tão lineares, ainda que ofereçam ocasionalmente momentos de exploração – a pé ou a cavalo -, Darksiders Genesis remete toda a sua atenção para o sistema de combate. Com dois personagens controláveis, isto se jogarem a solo, têm acesso a combinações e a ataques especiais que refletem os poderes de War e Strife, com o primeiro a ser mais focado no combate corpo a corpo e o segundo a focar-se nos ataques à distância. O jogo complementa perfeitamente estes dois estilos de combate e é fácil e rápido alterar este os dois Cavaleiros, mas quando temos níveis tão restritos e focados na luta contra hordas, pedia-se mais variedade num sistema de combate que é, em quase tudo, um reflexo do que vimos nos títulos anteriores.
Tal como em Darksiders, e nas suas sequelas, Genesis comete o erro de não melhorar o seu sistema de combate de raiz e implementar mudanças significativas nesta passagem para a visão isométrica, utilizando as mesmas combinações repetitivas e de fácil utilização num género que pede uma maior variedade e acessibilidade no que toca ao controlo das hordas de inimigos. Mesmo com a aquisição de novas habilidades, nunca sentimos que estamos a evoluir para além dos ataques rápidos e da sua combinação com ataques pesados e mais lentos, acabando por se transformar num monótono jogo de “carrega no mesmo botão”. A alteração de personagens e a possibilidade de podermos jogar com um amigo atenua esta repetição inerente à jogabilidade, tornando a experiência mais envolvente e até empolgante, mas a Airship Syndicate precisa de redesenhar o combate para uma possível sequela e quebrar o estigma que persegue a série deste a sua estreia há 10 anos.

Na Nintendo Switch, Darksiders Genesis é, infelizmente, pouco consistente, oferecendo uma experiência sólida na televisão, ainda que seja vítima de quedas de frames e de bugs visuais nas zonas mais exigentes, mas pouco marcante no modo portátil. É normal assistirmos a cortes na qualidade gráfica das versões para a consola da Nintendo e Genesis é mais uma das suas vítimas. O desempenho mantém-se maioritariamente forte, notando-se que foi o foco da equipa ao adaptar o jogo, mas os cenários perdem a sua definição e ficam quase desfocados no modo portátil. As sombras são carregadas, as cores ficam esbatidas e é difícil de ler nos níveis mais amplos, onde as personagens mal se destacam nos cenários desinteressantes. É um problema de performance, mas também de direção de arte, levando-me a concluir que uma paleta de cores mais vivas e quentes conseguiria contornar este problema na Switch.
Darksiders Genesis é uma boa distração da série principal e um olhar interessante sobre os acontecimentos que deram origem ao Apocalipse e à demanda dos Quatro Cavaleiros. A história é intrigante, ainda que vítima da falta de estrutura e de tom da série, e a interação entre as duas personagens mantém-nos agarrados à ação, mas esperava-se mais a nível da jogabilidade, revelando ser um jogo pouco marcante no que toca às suas mecânicas. Como spin-off, é uma boa experiência, um RPG de ação competente com alguns momentos fortes e empolgantes, mas espero que a série consiga evoluir e atingir o patamar que sempre ambicionou – não ser uma cópia, mas sim algo verdadeiramente original.
