Por: André Pereira
Eu sei que a E3 já terminou fisicamente, mas também sei que o espírito da mesma continua entre nós até ao lançamento do que foi anunciado. E quando tudo estiver cá fora, já estamos na próxima E3!
Para mim, o evento é uma festa. Uma espécie de Eurovisão que faz parar meio mundo – meia Europa, vá, alguns gatos pingados, ou um aquecimento para os Santos Populares, mas sem o courato e a mine.

Pedir dias para assistir às conferências, às tantas da manhã, ou fazer directa já é da praxe. Papar tudo o que é dito, exibido ou sussurrado é uma obsessão, ansiar por novidades quentes e boas para depois ficar desiludido também é uma constante, mas quando as expectativas são cumpridas, epá, tão bom. E quando há surpresas? A sensação é tal e qual aos dos adeptos de futebol quando Portugal ganhou o euro. Vão lá ver o vídeo de reacção quando anunciaram o remake de Final Fantasy VII e o nascimento de Shenmue 3. Eu espero.
Também é uma data de imenso trabalho. Os vários sites de jogos recebem caixotes de press releases para transcrever, impressões e reacções para mandar cá fora, notícias a serem disparadas para garantirem o clique fresco. Depois há o escrutínio, a análise e o debate. As compilações de memes, fails e pontos altos – Giant Enemy Crab.

O que isso significa para mim, jogador, e não pessoa que está na indústria: é como ir a uma loja de gomas e provar um bocadinho de cada antes de comprar um saco cheio. Sinto-me uma criança que é facilmente deslumbrada.
Adoro o evento e todo o build up até lá, os rumores, o hype, as discussões e as apostas. Adoro assistir às conferências em directo e saber que estou a ser acompanhado por jogadores de todo o mundo; franzir a testa quando apresentam que não gosto, urrar e aplaudir quando surge algo que adoro ou não estava à espera e adormecer quando começam a falar de números.
Mas tenho a noção que as coisas já não são como eram – tal como a Eurovisão mudou, também a E3 mudou. Há um desinteresse crescente no evento, com alguns estúdios a abandonar o formato de conferência para passarem clipes de vídeo ou anunciarem os seus produtos antes da E3, quando o mar ainda está calmo. E isto tira a piada à coisa se vamos para lá a saber que não vamos ver X ou Y, ou se já vimos tudo por causa dos leaks.

E aqui concordo com o Phil Spencer, da Microsoft, quando diz que teve saudades da Sony no evento – eu também! Mesmo quando não anunciam nada para mim, ou mais do mesmo, quero que estejam lá e façam a festa. Quero ver as figuras carismáticas a debitar jargão de marketing, pedidos de desculpa ou entusiasmadas com coisas que nem saíram ou vão sair em tempo de vida útil. Quero ver o Todd Howard a suar a estopinhas quando o assunto é Fallout 76; quando o Phil anuncia uma nova consola com zero jogos que não sejam Halo; quando anunciam que Shenmue 3 será exclusivo na Epic Games Store, lançando mil navios de sal pelas Internets; ou quando ninguém sabe quantas partes terá o remake de Final Fantasy VII. E depois quero ver o Keanu Reeves envergonhado ou a Ikumi Nakamura a ser adorável.

Adorava uma E3 com menos teasers CGI sem conteúdo ou gameplay a portas fechadas; mais acção e alguma conversa. Mas a quem quero enganar, papamos tudo, pedimos mais e já estamos prontos para a Gamescom e para o Tokyo Game Show, em Agosto e Setembro respectivamente. Até lá caímos na terra e retomamos a vida real, apanhamos uma ou outra distracção até sair o que queremos jogar. O final deste ano vai ser incrível e os meses seguintes para 2020 não lhe vão ficar atrás. Sem dúvida que foi uma boa E3, agora que sejam bons para nós e caprichem na qualidade para que possamos continuar neste lado a apoiar.