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epois de um regresso glorioso às consolas e PC, a série Monster Hunter estreia-se finalmente na Nintendo Switch com aquele que promete ser o último adeus à fórmula que popularizou uma das maiores franquias da Capcom. Apesar das suas limitações, quando comparado a Monster Hunter: World (MH:W), esta estreia mantém a alma da série intacta e demonstra como Monster Hunter continua a ser a melhor experiência do género, tanto a solo como cooperativamente.
Monster Hunter Generations Ultimate (MHGU) mantém a fórmula de sucesso e o ciclo vicioso de progressão da jogabilidade, assumindo-se mais como uma coletânea da série do que como uma sequela. Apesar das suas diferenças com Monster Hunter: World, o exclusivo da Switch aposta nas caçadas, eliminando o foco narrativo do título mais recente, e coloca os jogadores em constante movimento entre aldeias, missões e novos equipamentos para desbloquear e construir. O regresso à portabilidade foi suave nesta reedição do título da 3DS.
Se, como eu, se estrearam na série com MH:W, este pode ser um reencontro atribulado. MHGU é um retomar à fórmula clássica e aos mapas extensos, mas muito planos, ainda que alguns demonstrem uma aposta na verticalidade. O mundo volta a estar repartido por zonas, divididas por ecrãs de loading, e a jogabilidade assume novamente o peso e estratégia que foram suavizados no jogo mais recente. Aqui temos a série no seu estado mais puro, sem gordura, onde o investimento dos jogadores é a única força motora para uma campanha pouco interessada em histórias e personagens.
Foi um choque estrear-me nas versões portáteis, mas existe aqui um charme inegável. Se MH:W me conquistou com os seus cenários e o seu mundo extenso e interligado, já MHGU agarrou-me ao conseguir destilar a sua jogabilidade e ao colocar-me sempre próximo da ação. Senti que a campanha estava à minha mercê, sem paragens, onde a curiosidade me levava a explorar e a encontrar novos materiais. Sem MH:W talvez não sentisse este à vontade, mas o choque inicial rapidamente se dissipou quando descobri a mesma jogabilidade sólida e viciante.
Claro que o classicismo da série revela alguns problemas, ainda mais quando vimos o que a Capcom conseguiu fazer com o novo jogo, e isso é muito evidente durante o começo da campanha. Tal como os restantes títulos da série, MHGU tem um início muito lento, onde as primeiras três ou quatro horas são dedicadas à recolha de itens e à caça de monstros de porte pequeno. Nota-se que o jogo está mais interessado em explicar tudo o que podemos fazer no seu mundo, mas nunca deixa de ser cansativo regressar a um mapa onde só temos de apanhar um número limitado de cogumelos, algo que iremos fazer nas horas seguintes e com maior vontade. São as rédeas que limitam este início, este forçar das mecânicas, mas é compreensível quando temos tanto para aprender e memorizar.

Apesar de ter passado várias horas com o jogo, sinto que ainda tenho muito para descobrir e aprender sobre a sua jogabilidade. MHGU pode ser limitado na história e no tipo de missões que nos oferece, mas no que toca às mecânicas e ao sistema de combate, é um poço de ideias e criatividade. Não só temos várias armas à nossa escolha, cada uma com as suas vantagens e desvantagens – eu tenho apostado mais na Charge Blade –, equipamentos para criar e amuletos, como podemos equipar habilidades especiais que influenciam a velocidade dos combates e a variedade de estratégias que podemos implementar. Estas habilidades estão divididas por classes e são influenciadas pelo tipo de arma que decidimos usar, mas variam entre ataques destrutivos ou evasões perfeitas.
O combate continua a ser pesado, ainda que mais diverso em relação aos títulos anteriores, e a falta de lock-on pode enfurecer alguns jogadores, mas esta rigidez nos ataques e movimentos é complementada pela variedade de combinações que temos ao nosso dispor. É absolutamente necessário aprender e dominar todos os ataques da nossa arma, pois são essenciais para os monstros mais poderosos. Estas combinações permitem-nos infligir um maior número de ataques num curto espaço de tempo, adicionar propriedades elementais a golpes mais destrutivos ou até contornar a falta de movimento sempre que temos a arma nas mãos, dando-nos a possibilidade de nos deslocarmos rapidamente através da rapidez dos ataques, do seu diâmetro e distância. Quando controlamos todos estes elementos, juntamente com a utilização de itens e armadilhas, sentimos a fluidez escondida dos combates na sua plenitude. Se aliarmos estes elementos à verticalidade de alguns dos cenários e às novas opções de movimentação, entramos num ritmo frenético em que sentimos que melhoramos a nossa performance a cada batalha que vencemos.

Graficamente, MHGU não surpreende à primeira vista, mas a sua performance complementa esta falta de um mundo mais detalhado e luxurioso. Sendo um port da versão 3DS, a estreia da série na Switch aposta apenas numa maior resolução, com modelos mais definidos, mas mantém os seus cenários limitados e condicionados. As cores fortes dão alguma vivacidade ao mundo do jogo e os cenários apresentam fauna e flora suficientemente variadas para não causar um cansaço imediato, mas quero ver mais e melhor na Switch. No entanto, não encontrei quaisquer problemas de otimização ou performance tanto no modo portátil ou na televisão, com o framerate a ser muito sólido.
Talvez MH:W nos tenha habituado mal e este retrocesso às raízes da série seja visto mais como um percalço na história da série do que uma evolução. Mas se colocarmos de parte as inovações do novo jogo e percebermos que se trata de uma reedição, onde a jogabilidade volta à fórmula clássica da franquia, conseguimos ver como MHGU é um excelente jogo e uma ótima adição à vossa coleção. O desejo de criar novos equipamentos e eliminar monstros mais poderosos continua a ser delicioso e aqui temos imenso conteúdo para desbravar, com eventos exclusivos e desafios diários para concluir. Parece que a Capcom continua a ganhar em 2018. Quem diria!

O código para análise foi cedido pela Ecoplay.