Aviso à navegação: ninguém da equipa do Glitch jogou o título de estreia da nerd monkeys, Inspector Zé e o Robot Palhaço em: O Crime no Hotel Lisboa. Começo com este aviso por ter sentido que O Assassino do Intercidades faz valer a familiaridade com algumas caras conhecidas e talvez jogue com essa mesma familiaridade para apoiar algumas piadas. A única certeza que tenho é que ter jogado O Crime no Hotel Lisboa talvez sirva como acréscimo à experiência desta sequela mas não como requisito, pelo que não levanta barreiras a um novo público ao mesmo tempo que pretende semear a vontade de ir em busca do primeiro título.
Inspector Zé e o Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades apresenta-se como um jogo de aventura point and click, na linha de séries como Monkey Island e Broken Sword. Um género praticamente extinto, não fossem os sucessos ocasionais como Machinarium, Deponia, Broken Age e as remasterizações dos clássicos como Grim Fandango e Full Throttle, é uma experiência que tradicionalmente aposta em puzzles que obrigam o jogador a pensar de forma mais flexível e menos convencional – quem jogou as séries Broken Sword e Monkey Island lembrar-se-á da minhoca da garrafa de tequila e das canecas de grogue.
Mas mesmo dentro do género, Inspector Zé e o Robot Palhaço consegue escapar à fórmula tradicional e afirmar a sua. O jogador, no papel de Inspector Zé, colecciona objectos que lhe permitem interagir com outras personagens e assim recolher pistas e provas para interrogar os suspeitos. Quando esta opção passa a estar disponível, o jogador pode escolher entre as duas personagens titulares para conduzir o interrogatório numa sequência de três rondas de três perguntas conjugadas com provas recolhidas. É um sistema que combina com a temática e nos dá acesso a duas abordagens distintas, mas que impõe uma simplicidade contraditória ao género, em boa parte porque as perguntas correctas são fáceis de identificar e por não haver qualquer castigo ao falhar o interrogatório como acontece em L.A. Noire, por exemplo.
HÁ MINIJOGOS E “SAIDEQUESTES”,
OBJECTOS PARA COLECCIONAR
E EASTER EGGS
Outro aspecto que a nerd monkeys procura vincar em Inspector Zé e o Robot Palhaço é o “portuguesismo” do jogo, tanto no cenário retro dos anos 80 (?) com comboios e táxis e televisões CRT e telefones de fio, como no humor que recria um ambiente de teatro de revista. E enquanto é engraçado ver algumas referências à nossa infância (se não forem do novo milénio) e identificar caricaturas de alguns elementos de cultura popular portuguesa, sinto que o humor procura emular o exemplo errado. As piadas são propositadamente secas ou trocadilhos brejeiros mais ao jeito d’ Os Malucos do Riso do que do melhor que Herman José fez. Mesmo tendo em conta a subjectividade do humor, Inspector Zé e o Robot Palhaço tem poucas tiradas que nos provocam a gargalhada espontânea, e mesmo essa é curta, quando vem.

Contido e simples, O Assassino do Intercidades sente-se mais como um jogo de mobile do que propriamente um título de PC, talvez porque o contexto táctil dos tablets é o par perfeito para a mecânica de point and click nos dias que correm. Ainda assim, para quem cresceu com as grandes séries do género dos anos 90, os tempos dourados do mesmo, fica a faltar um humor mais sagaz e o nonsense mais afinado e menos corriqueiro. Acima de tudo, sente-se a falta das mecânicas que nos garantam uma sensação de agência no decorrer do jogo. Como está, Inspector Zé e Robot Palhaço em: O Assassino do Intercidades poderá ser uma boa distracção para alguns, mas certamente não para todos.
